quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A PROPOSTA LACANIANA DOS CARTÉIS

Para Sócrates a postura do mestre no processo de despertar para o conhecimento envolve o saber e a verdade. Lacan apresenta uma crítica a esta postura ao mostrar que o conhecimento adormecido ou esquecido não cobre todo o campo da experiência humana, colocando, então, o lugar do sujeito na questão. Para Lacan, a emergência do mundo simbólico no processo de desenvolvimento do saber não significa que o sujeito já nasce com o conhecimento, mas que esse conhecimento também é constituído por intermédio da função simbólica. Colocando essa questão, Lacan também coloca a questão do inconsciente, que impõe a valorização do sujeito no processo de aprendizagem. Lacan questiona a forma de mestria de Sócrates, quando analisa o diálogo de Mênon, o escravo a quem Sócrates deu elementos para o raciocínio, porque acredita na mestria do inconsciente. Portanto, Lacan propõe que seja por esta via do inconsciente a base do funcionamento da escola lacaniana: o cartel.

Com a finalidade de estudar e produzir conhecimentos sobre a psicanálise, Lacan cria a prosta dos cartéis que consistem em pequenos grupos de estudo formados por entre três e quatro pessoas, cinco no máximo e MAIS-UMA. Todos os membros desse grupo fazem seus próprios estudos de forma a obter produtos individuais de suas pesquisas e utilizam os momentos em grupos para discutir e expor seus avanços no tema desenvolvido pelo grupo. A figura do Mais-um é muito importante nesse processo, sendo que ele não atua como um professor, ensinando e transmitindo seus conhecimentos para o grupo, ao contrário, ele aprende junto com o grupo, mantendo a organização do grupo, motivando-o e acompanhando o processo que é desenvolvido por cada aprendiz pertencente ao grupo.

Com essa proposta, o cartél se aproxima muito da metodologia EAD, visto que não é a presença do líder, o tipo de mestria que é importante, mas sim o produto do grupo de estudos e dos sujeitos.
O questionamento da postura do mestre fundamenta a metodologia EAD na medida em que põe em cheque a real necessidade da figura do mestre para que o outro aprenda. A partir da existência dos cartéis, propostos por Lacan compreende-se que o aprendizado é possível mesmo sem a presença de um mestre, com o papel de ensinar e apresentar ao aluno o conhecimento. Essa proposta se aproxima da metodologia EAD no sentido de que adimite que não existe o saber acabado, e que o aluno é capaz de aprender sem um professor, no trabalho de busca pelo conhecimento. E que, neste trabalho, ele não está sozinho, tem o apoio de um tutor que, na EAD, pode ser comparado ao Mais-um do cartel. O qual, não vai transmitir seu saber ao aluno, mas sim, aprender junto, incentivar e influenciar para que o aprendiz obtenha seu próprio produto.

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